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«Desejo sempre o melhor para este clube»

Por: LSC   |   04-04-2020  |  Futebol   |  
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Numa grande entrevista conduzida pelo leixoessc.pt, Detinho, antigo avançado leixonense que brilhou entre 2002 e 2005 com o nosso símbolo ao peito, recorda com alegria e saudade esses tempos, mostrando-se um grande adepto do nosso clube.

José Wellington Bento dos Santos, mais conhecido como Detinho, brilhou com a camisola do Leixões entre 2002 e 2005, tendo feito 27 golos em 107 jogos. O «gigante» brasileiro, foi imagem de marca num Leixões que alcançou uma histórica final da Taça de Portugal, onde acabou por perder por 1 a 0 frente ao campeão nacional Sporting CP, em 2002, continuando desde aí o recorde de única equipa do terceiro escalão a chegar à final da competição. Foi também importante no regresso da turma do Mar às divisões profissionais e na breve presença nas competições europeias.

Detinho, começou a jogar futebol já algo tarde, após uma infância complicada no Brasil, quer-nos contar um pouco como foi?
Sim, era um garoto com o sonho de se tornar um jogador profissional de futebol. Vim de uma família muito pobre que não tinha estrutura nenhuma. Trabalhei e esforcei-me bastante para realizar esse sonho... e assim foi, sempre gostei de treinar e jogar futebol. O meu primeiro contrato foi na equipa da minha cidade, Propriá Esporte Clube, no Campeonato Sergipano da segunda divisão do estado de Sergipe. Foi aí que me tornei um jogador profissional. Ainda passei por outros clubes até chegar ao Vasco de Sergipe, da capital de Aracaju no Campeonato Sergipano. Depois apareceu a oportunidade de jogar em Portugal em 1996.

Viajou para Portugal, e passou por vários clubes antes de chegar ao Leixões, tendo atuado até na Primeira Liga. Foi fácil a decisão de, após jogar no máximo escalão do futebol português, vir jogar para um clube que militava dois escalões abaixo?
Cheguei a Portugal em 1996, como tinha referido, para representar o Paços de Ferreira. Passei depois por Vianense, Oliveirense, Marco onde fui o melhor marcador da II Divisão B com 26 golos e onde subimos de divisão. Veio o salto para o Campomaiorense e para a primeira liga, mas a equipa acabaria por descer. Depois apareceu o Leixões... a decisão foi fácil porque o Leixões fez-me uma boa proposta com 4 épocas de duração.

Como foi recebido no Leixões?
Muito bem, mas os primeiros meses foram complicados. Eles queriam resultados rápidos. A equipa apostava sempre para ser campeão e subir de divisão, era grande a pressão para atingir os objectivos. No decorrer dos anos conseguimos o grande objectivo que o clube pretendia, de subida, e fomos todos felizes juntos! Felizmente, fui um jogador adorado por todos, acabando com o apelido de «Detigol». Eu era um jogador que me descreveria dessa maneira, muita força e faro para o golo, mas sempre sem desistir de qualquer lance até ao término do jogo. A maioria dos meus golos era sempre nos momentos cruciais das partidas, últimos 5 a 10 minutos, tentando sempre dar a vitória ou o empate naquelas partidas mais difíceis.


Quatro épocas com este símbolo ao peito, muitos golos, muitos jogos. Qual o mais marcante? 
Sim, foram quatro temporadas mas só consegui jogar 3 porque tive uma lesão na última. Fui operado ao pé direito e não consegui jogar o ano todo. De 2003 para 2004 recuperei bem, mas o Leixões decidiu não renovar o meu contrato. Em resposta à pergunta, o mais marcante foi o jogo em Braga, naquela noite de 21 de Fevereiro de 2002, valeu o bilhete para final da Taça de Portugal. Recordo-me de uma história engraçada desse jogo. O Braga já tinha vários autocarros para poder levar os seus adeptos para final no Jamor contra o Sporting. Ficamos a saber disso e ainda nos deu mais motivação para vencer a partida. O terceiro golo foi muito importante, pois conseguimos matar o jogo e fazer que o Braga naquele momento..Os adeptos no estádio foram fantásticos e a festa quando chegamos a Matosinhos quando chegamos foi espetacular. 

Final da Taça de Portugal, faltou-nos uma “pontinha”de sorte para conseguirmos erguer o troféu? Que recordações tem desse jogo?
Acabou por ser um prémio para nós. Fizemos uma trajetória bonita no Campeonato e nos jogos da Taça, e chegar na final foi um momento histórico para nós... Jogamos de igual para igual, desenvolvemos o nosso futebol e elevamos bem alto o nome do Leixões. Mesmo não ganhando o jogo, saímos satisfeitos. Foi incrível ver aquela moldura toda dos adeptos leixonenses.


Seguiu-se uma nova época, em que se estreou nas competições europeias, acabando até por marcar um golo ao PAOK, numa partida com o estádio do Mar praticamente cheio, apesar da chuva. O que nos tem a dizer desses jogos?
Sim, no ano seguinte fomos disputar os play-offs das competições europeias. Eram jogos diferentes... Haviam bastantes jogadores experientes que já tinham jogado na primeira divisão de Portugal. Fizemos bons jogos nas competições europeias. O mais importante foi no Mar, contra o PAOK onde acabamos por vencer por 2 a 1, mas fomos infelizes pois tivemos várias oportunidades de fazer mais golos e desperdiçamos. Na partida na Macedónia, lembro que chegamos em uma cidade muito escura, tivemos que levar alimentação de Portugal e cozinheiros para fazer a comida para todos os jogadores e staff, no hotel. Conseguimos ganhar o jogo com muita dificuldade num campo muito escuro, à noite, com uma eliminação muito ruim. Quando chegamos a Portugal, no aeroporto, estavam lá os nossos adeptos a encher por completo, fazendo a maior festa. Não importava a hora que fosse, eles estavam sempre lá à nossa espera.

Subida de divisão acabaria por ser um prémio merecido, face ao que se tinha passado na época anterior. Mais um momento de grande festa dos leixonenses. Ainda se lembra do ambiente vivido em todos os jogos, no Mar e fora em que os estádios estavam sempre cheios?
Ano da subida conseguimos os nossos objetivos que era ser campeão. Jogos em casa estavam sempre cheios, nos fora também, mas sabíamos que os outros clubes aumentavam os preços dos bilhetes para os nossos adeptos não comparecerem tanto, mas eles iam na mesma...Nessa época, no último jogo em casa, a torcida invadiu o campo e me deixaram só de cuecas (risos), até me levaram as chuteiras.. boas lembranças! Fiquei um pouco sufocado naquele momento com tanta gente me rodeando mas foi um sentimento inesquecível.


Alguma história engraçada que nos queira contar do seu período no Leixões?
Sim, tínhamos muitas brincadeiras engraçadas no balneário. Por vezes se pendurava, com um nó, umas cuecas de um jogador no meio do balneário. Chegávamos do treino e todos morriam de se rir, mas a melhor era o balde de água que ficava à porta do balneário...

Ainda efetuou mais uma época em Portugal, após sair do Leixões e rumou posteriormente a Hong Kong, onde ficou até terminar a carreira. Foi por várias vezes o melhor marcador do campeonato. Sente que podia ter dado mais ao futebol português?
Sim, quando saí do Leixões ainda joguei mais um ano em Portugal, no Imortal de Albufeira. Depois recebi uma proposta de Hong Kong para representar o South China e aceitei. Ganhamos o campeonato local por 3 anos consecutivos, a juntar a 4 taças. Numa das épocas destaquei-me com 26 golos, depois de 21 golos no primeiro ano e 22 no segundo. Fui considerado um dos melhores jogadores da liga. Depois veio a transferência para o Citizen, de Hong Kong, onde atuei de 2009 até 2014. Conseguimos ser campeões da Taça da Liga, onde fiz 31 golos nessas temporadas. Neste momento jogo na segunda divisão, no Wing yee Property, onde conto até então com 88 golos.

Continua a acompanhar o Leixões? O que prevê para o futuro?
Sim, sempre que consigo, acompanho o Leixões pelas redes sociais. Desejo sempre o melhor para este clube e que esteja sempre com boa saúde financeira e brevemente no lugar que merece, a primeira divisão.

Ainda hoje os leixonenses o relembram com carinho, e sempre que vem a Portugal, visita os leixonenses e o estádio do Mar. Gostaria de deixar uma mensagem a todos os leixonenses?
Sim, sempre que estou de férias em Portugal, vou ao estádio do Mar para matar a saudade e conversar um pouco com alguns amigos. Também o meu filho, que nasceu aí em Matosinhos, gosta sempre de pisar na relva e jogar um pouco de bola. 
A mensagem que eu deixo para todos os leixonenses é que continuem sempre a apoiar. Todos juntos tornam-se mais fortes!

Para finalizar, quer deixar algum apelo ou comentário sobre o estado atual do mundo, tendo em conta a pandemia?
É uma situação muito triste, onde todos os países estão a passar pela mesma situação, uns mais, outros menos. Isto tudo, um dia vai passar e vamos voltar à rotina normal do nossos trabalho. nossos convívios com nossos familiares e amigos. Vamos ter fé! Muita força para todos!