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«O Mestre João Faneco é uma enorme referência e um símbolo do que é o Leixões»

Por: LSC   |   11-04-2020  |  Futebol   |  
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Esta semana, tivemos o prazer de estar à conversa com o Prof. Pedro Correia, ele que chegou ao Leixões em 1999 para treinar os sub-10 e chegou a treinador da equipa principal em 2013.

Pedro Miguel Caldeira Correia, nascido a 29 de Abril de 1978, natural de Santo Ildefonso, no Porto, chegou ao Leixões em 1999 para treinar e coordenar a Escola de Futebol João Faneco e posteriormente o futebol formação do nosso clube. Iniciou o projeto do Futebol Feminino no nosso clube, onde conseguiu uma subida de divisão. Chegou a ser treinador da equipa sénior, em algumas fases das épocas de 2013 e 2014, tendo estado perto de uma subida de divisão. Rumou ao Brasil em 2015 onde é, até então, diretor desportivo do clube Grémio Esportivo Anápolis.

Pedro, chegou muito cedo ao Leixões, em 1999, tinha apenas 21 anos. Lembra-se como foi? Quem apostou em si?
Em julho de 1999, fui reunir ao Estádio do Mar com o diretor do departamento do Futebol de Formação, o Sr. Lima Ferreira devido à necessidade de fazer estágio, pois estava no 4.º ano do curso da FADEUP. Eu e o meu colega Pedro Vale, fomos por ele convidados a assumir a equipa sub-10, onde ainda se jogava futebol de onze. E ai começou o meu percurso no Leixões Sport Club.


Passou a ser o responsável pela Escola de Futebol João Faneco, trabalhando juntamente com o Mestre Faneco. Foi um grande professor? Quer-nos contar um pouco como foi?
No ano seguinte à entrada no Leixões SC, existiram mudanças diretivas que trouxeram novas ideias e com isso o coordenador técnico Prof. José Manuel Ferreira, que implementou na altura o projeto “De volta às origens” no futebol de formação. Convidou-nos para assumir e organizar a escola de futebol João Faneco. Foi um projeto que nos deu muito trabalho, mas também muito sentimento de dever cumprido, pois passamos de uma escola de pista de estádio com 30 crianças, para mais de 250 com condições dignas de trabalho, onde se criaram muitas atividades, onde destaco os campos de férias que na altura foram modelo, mas também torneios e viagens pelo país. O Mestre João Faneco é uma enorme referência e um símbolo do que é o Leixões. A sua dedicação, postura... guardo para mim muitos momentos que me fizeram crescer como homem. A paixão dele pelo Leixões e pela cidade de Matosinhos merecem um reconhecimento póstumo de enorme relevância. Ele foi uma das pessoas que fazem o Leixões ser o que é hoje no panorama nacional.


Assumiu o Futebol Feminino, quando o mesmo surgiu. Algo novo, na sua ainda curta carreira?
O futebol feminino surgiu na ideia de evoluir e completar uma lacuna no futebol, pois as restantes modalidades tinham vertente masculina e feminina. Em 2006, numa conversa com o diretor de futebol, Sr Rui Costa, e o coordenador técnico Luís Luís foi-me permitido avançar com esse projeto, do qual me orgulho muito pois trouxe títulos distritais e nacionais, jogadoras nas seleções nacionais e acima de tudo continuamos a trazer mais pessoas para o clube, que fizeram do Leixões a sua referência.

Em 2012/2013 chegou ao ponto mais alto no Leixões. Treinador principal após a saída de Horácio Gonçalves. Quase conseguiu subir o clube, ficando apenas atrás de Belenenses e Arouca, com um dos orçamentos mais baixos da segunda liga, disputando a subida até aos últimos jogos. Mesmo assim, sentimento de dever cumprido?
Antes disso era já Coordenador Técnico do futebol de formação, a convite do Sr. Adelino Gomes que era diretor do futebol de formação na altura, e uma pessoa que é referência pela sua dedicação e amor ao clube, onde iniciamos um projecto “Leixões de Matosinhos”. Acabou por trazer muitos resultados na formação de jogadores, para o clube. No fim da época 2011/12 integrei a equipa técnica do Horácio Gonçalves, pois tinham a necessidade de mais um auxiliar. Na época 2012/13, o Horácio saiu em Novembro para ir para o Chipre, mas a restante equipa técnica permaneceu, eu, o João Costa, o João Esteves, o Nuno Fernandes e o Armando Roriz. Como o Leixões tinha cerca de 15 dias para informar novo treinador, solicitaram que assumíssemos. Assim o fizemos e felizmente tudo correu bem. Depois veio a aposta em definitivo, onde me perguntaram se eu gostaria de assumir. Como não viro a cara à luta, com a restante equipa técnica fomos para a guerra. Numa altura em que o Leixões vivia enormes dificuldades, sem possibilidades financeiras para nada, foi uma época de verdadeiros heróis e que até ao momento não se conseguiu igualar. Infelizmente, pois o lugar da equipa é na 1.ª Liga. Respondendo à pergunta, nada faltou em relação a jogadores e equipa técnica, demos tudo, ou mais que tudo, pelo orçamento ou condições, deveríamos ter estado a lutar pela permanência. O 3.º lugar em 2012/13, nas condições que tivemos, foi como conseguir chegar a bom porto, no meio de um furacão, de barco a remos.


Nova época em que acabaria por ser a sua última com este símbolo ao peito. Apesar dos poucos recursos, os leixonenses exigem sempre muita pressão, e os resultados não foram os melhores. Não foi a saída desejada? O que faltou?
Foi uma época de muita evolução e aprendizagem para mim. Em 2013/14 os melhores jogadores saíram, permaneceram os que normalmente eram suplentes e os que estavam em fim de carreira. As aquisições foram de jogadores que seriam aposta e que vinham de divisões inferiores, sendo o orçamento ainda mais reduzido que na época anterior. A época começou bem e em Dezembro estávamos na 3.ª fase da Taça da Liga (tendo eliminado o Vitória de Guimarães na 2.ª fase) e nos oitavos de final da Taça de Portugal (onde defrontamos o Estoril). O que era bom para a visibilidade do clube foi mau para o rendimento posterior, pois a equipa não conseguiu dar sequência e evolução. Foi a época na história do Leixões com mais jogos oficiais, num total de 54. Sai quando vi que a gestão efetuada estava desgastada e a equipa precisava de abanar para tentar evoluir. Saímos à 30.ª jornada, na 17.ª posição em 22 clubes, posição em que acabaria por ficar a equipa no final da época. Gosto de ganhar e trabalho para ganhar, seja em que função for e estar só por estar não é a minha postura, por isso resolvi sair. Mas com o sentimento de dever cumprido, e até mesmo superado, pois passados estes anos, e felizmente com melhores condições, verificamos que o que a minha equipa técnica fez foi um excelente trabalho.

Mesmo assim as lembranças que levou do Mar foram boas? Alguma história engraçada que nos queira contar?
As lembranças são as melhores, pois estive no Leixões desde Setembro de 1999 a Março de 2014, quase 15 anos seguidos. Fui da base da pirâmide ao topo, fiz 74 jogos , sendo neste momento o terceiro treinador com mais jogos e vitórias na história de um grande do futebol português, o que me deixa muito orgulhoso. No Leixões cresci como profissional mas principalmente como homem, o clube e a cidade são referências para mim. Vim embora mas parte de mim ficou no clube e na cidade.

Rumou ao Farense e então ao Brasil, para dirigir o futebol do Grémio Anápolis. A adaptação foi fácil?
Sim, tive a felicidade de treinar o Farense, um dos clubes com mais história no futebol português, tal como o Leixões. Por isso na função de treinador posso considerar-me um felizardo por ter tido a oportunidade de ter estado à frente destes dois clubes. Foi uma ótima experiência, mas surgiu outra proposta e decidi avançar, pois queria muito evoluir e não estagnar, tendo acabado por vir para o Brasil. Um projeto conhecido por todos no Brasil e no futebol português, em que fui convidado pelo António Teixeira. Fui conhecer o clube, do qual é parceiro e decidi avançar e aceitar o desafio. A adaptação foi fácil pois foi o clube que mais condições de trabalho me deu, sendo que a função seria diferente mas com a vontade que ia para tudo dar certo, tudo se tornou mais tranquilo. Estou no Grêmio Anápolis à 4 anos e meio e felizmente o projecto tem continuado a crescer desportivamente. Em 2017 fomos campeões, e disputamos frente a frente com equipas da série A. O Grêmio é uma equipa com uma média de idades de 21/22 anos, em que temos projectado vários jogadores jovens para o futebol europeu, por exemplo no futebol português: Galeno, Carlos Vinicius, Pedro Henrique e muitos outros.


Como tem sido a experiência? Quais as diferenças entre o futebol brasileiro e o português?
A experiência está a ser fantástica pois conheço o futebol brasileiro e, por consequência, o Brasil, de uma forma profunda. Gosto do que faço e quero continuar a evoluir para ser cada vez melhor. O futebol brasileiro, tal como o Brasil, é muito diferente do futebol português e de Portugal e quem pensar o contrario nunca irá perceber a melhor forma de analisar o jogador brasileiro. Existem muitas diferenças, desde logo a linguagem sobre futebol, depois as rotinas e processos de treino, a forma tática que é subentendida pelo jogador e treinadores. Por isso, a vinda do Jorge Jesus foi ótima, mas ele entrou para o topo da pirâmide. A meio, e na base dessa pirâmide, irá demorar qualquer modificação que aproxime as duas realidades. Em relação aos jogadores é excelente verificar que ainda recrutamos jogadores com tanto potencial, e que depois evoluem de forma exponencial, vejam os casos recentes de Carlos Vinícius e Galeno.

Quem é o Prof. Pedro Correia hoje em dia?
Um homem e um profissional do futebol muito diferente do momento que saiu do Leixões. Julgo que para melhor, e com uma maturidade muito maior, devido às vivências adquiridas ao longo dos anos. Por isso alguém que se sente muito mais capaz de atingir os objetivos propostos, e que se sente bem com o que faz e onde está.

Continua a acompanhar o Leixões?
Sempre que posso vejo jogos, pois a referência Leixões jamais me deixará. Acompanho o dia a dia também pelas notícias e amigos leixonenses. Desde que sai do Leixões, só fui uma vez ao Estádio do Mar para ver um jogo, mas espero ir mais vezes no futuro.

Gostaria de deixar uma mensagem a todos os leixonenses?
O Leixões Sport Club é um clube dos maiores clubes do desporto em Portugal e por isso, a cidade e as suas gentes devem tentar ultrapassar as dificuldades ainda presentes e fazer do LSC uma referência nas mais diversas modalidades, pelo seu presente e futuro.

Para finalizar, quer deixar algum apelo ou comentário sobre o estado atual do mundo, tendo em conta a pandemia?
Calma, serenidade, evitar alarmismos mas ir sempre de encontro ao que é pretendido. Estamos a lutar contra um adversário invisível, que a uns nada faz e que a outros tira tudo. E esta forma “quase aleatória” é difícil de entender, por isso devemos fazer o que nos pedem. Prefiro preservar a vida agora e o trabalho depois, do que preservar agora o trabalho e depois arriscar a não ter vida, minha ou de quem mais quero.